Rotina diária de meia de leite
em casa antiga do Porto
próximo a um Cristo crucificado.
4 senhoras de uma empresa de limpeza
terminam a tarefa a um canto da sala
numa mesa escura com cadeiras do tempo da minha avó
falam, às vezes exaltam-se
magoam-se
pedem sempre o mesmo, tal como o senhor do Jesuíta
que vai enfiando os pedaços de amêndoa planada dentro do pingo
sorvido em golos.
Duas são casadas. tenho quase a certeza. uma é solteirona e a outra, ou é divorciada ou qualquer coisa assim entre o estado civil e a realidade.
comentam tudo, o fim de semana, a semana, o dia de amanha, a roupa, os cremes oferecidos por uma patroa num acto de piedade para uma pele enrugada. um "Tome lá", é para si.
Mas hoje, apercebi-me de um outro pormenor. Lêem o horóscopo de um desses diários gratuitos que a manhã oferece à saída de qualquer transporte público.
Em voz alta. Como se fosse poesia para as almas. E discutem a harmonia, o amante que é preciso tratar com carinho. Cuidado com os gastos supérfluos.
Elas nem se aperecebem que os espelhos da sala reflectem a alma. E tristeza é o que vejo. Uma vida de novelas e horóscopos e viagens a praias galegas por 13€. Ida e volta. tudo no mesmo dia.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
1 comment:
vou tentar evitar esses espelhos reflectores de alma nos próximos tempos.
Post a Comment